Dois dos principais candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro gastaram mais do que arrecadaram na campanha até o momento. Líder nas pesquisas de intenção de voto, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) já desembolsou 5,5 milhões de reais para voltar ao cargo ocupado por dois mandatos (de 2009 a 2016). No entanto, as doações recebidas por Paes chegaram a 4,7 milhões – déficit de 760 mil reais. Enquanto isso, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que disputa a reeleição e aparece em segundo lugar, teve despesas de 3,7 milhões de reais, mas apresentou receitas de 2,04 milhões – saldo negativo de pelo menos 1,7 milhão de reais. As informações estão no sistema de prestações de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e são parciais.
Eduardo Paes usou 79% do dinheiro para pagar a agência de publicidade Rio 2020 Publicidade Ltda., ou seja, R$ 4,3 milhões. Como mostrou VEJA em 18 de outubro, a empresa tem sede em Jacarepaguá, na Zona Oeste, e foi aberta no dia 5 do mesmo mês – oito dias depois do início da campanha, em 27 de setembro. O dono é Raul Guedes Rabelo, um dos sócios da Leiaute Comunicação e Propaganda, que tem como clientes o governo da Bahia. A maior parte dos recursos recebidos pelo ex-prefeito é do Fundo Especial de Financiamento de Campanha do DEM (95% ou 4,5 milhões de reais) e do aliado Partido Liberal (o PL, com 4,1% ou 200 mil reais).
Marcelo Crivella, por sua vez, gastou mais com a Gráfica e Editora Príncipe da Paz: 940,9 mil reais. A empresa funciona em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e é especializada em impressão de material gráfico. O prefeito também gastou 500 mil reais com a Studio One Publicidade, Comunicação e Eventos Ltda, de propriedade de Gutemberg Fonseca, ex-secretário municipal de Ordem Pública (Seop). Atualmente, Gutemberg é o responsável pelo marketing e pelas redes sociais de Crivella nas eleições. Outros 310 mil reais foram pagos à BB Parcerias e Participações Ltda, de Rodrigo Bethlem, um dos coordenadores de campanha do prefeito.
Crivella repassou mais 300 mil reais ao escritório do advogado Alberto Sampaio Júnior, que o defende na Operação Hades. A ação investiga o chamado “QG da propina” dentro da prefeitura do Rio. Crivella foi um dos alvos e teve o celular apreendido pelo Ministério Público e pela Polícia Civil. A busca e apreensão ocorreu em 10 de setembro. Sampaio Júnior admitiu ter orientado Crivella a não informar a senha do aparelho para os investigadores. Boa parte da receita do prefeito é do Fundo Especial de Financiamento de Campanha.
Entre as pessoas físicas que doaram para Marcelo Crivella, como também revelou VEJA em 18 de outubro, está Ailton Cardoso da Silva, secretário especial da prefeitura, com R$ 20 mil. Ailton apareceu como um dos administradores do grupo “Guardiões do Crivella”, esquema montado com funcionários contratados pelo município para atacar jornalistas, pacientes e parentes que reclamam do atendimento da saúde. Fernando Meira Júnior, outro funcionário da prefeitura, repassou 30 mil reais à campanha de Crivella.
A ex-juíza Glória Heloiza (PSC) gastou até agora 2,5 milhões de reais. Ela, porém, arrecadou 2 milhões de reais, saldo negativo de 500 mil reais. Toda a receita da candidata saiu do Fundo Especial de Financiamento de Campanha. O PSC é o mesmo do governador do Rio afastado Wilson Witzel. A legenda é comandada pelo pastor Everaldo Pereira, preso na Operação Tris in Idem, que apura corrupção na área da Saúde do estado.
A assessoria de imprensa de Eduardo Paes negou que haja déficit nas contas do candidato. Segundo nota enviada a VEJA, “o que a reportagem atribui como gastos se refere ao valor total contratado pela campanha até o momento”. No entanto, afirma a assessoria de Paes, “nem todos os serviços contratados foram executados em sua plenitude”. “Os valores são pagos na medida em que os serviços são prestados e a todo instante os valores são atualizados no site do TSE”, finalizou. VEJA, porém, mantém as informações apresentadas oficialmente pelo Tribunal Superior Eleitoral.
A assessoria de imprensa de Crivella disse que não há problemas nas contas. “É sabido que, em uma campanha, há os gastos, principalmente com produção de material, e o partido envia o dinheiro aos poucos”, ressalta a nota.
Glória Heloiza não respondeu.
Quanto cada candidato recebeu e gastou até o momento:
Eduardo Paes (DEM): R$ 4,7 milhões (recebeu) / R$ 5,5 milhões (gastou)
Marcelo Crivella (Republicanos): R$ 2,04 milhões / R$ 3,7 milhões
Glória Heloíza (PSC): R$ 2 milhões / R$ 2,5 milhões
Martha Rocha (PDT): R$ 4,5 milhões / R$ 2,8 milhões
Benedita da Silva (PT): R$ 3,1 milhões / R$ 2,2 milhões
Luiz Lima (PSL): R$ 3,4 milhões / R$ 2,3 milhões
Renata Souza (PSOL): R$ 1,3 milhão / R$ 699,1 mil
Eduardo Bandeira de Mello (Rede): R$ 2,06 milhões / R$ 1,1 milhão
Paulo Messina (MDB): R$ 1,022 milhão / R$ 1,080 milhão
Clarissa Garotinho (PROS): R$ 1,4 milhão / R$ 1,16 milhão
Cyro Garcia (PSTU): R$ 42,7 mil / R$ 33,4 mil
Fred Luz (NOVO): R$ 816,7 mil / R$ 604,5 mil
Suêd Haidar (PMB): R$ 320 mil / R$ 261 mil
Henrique Simonard (PCO): R$ 1 mil (recebeu) / Ainda não declarou as despesas.