Duas fraudes. Uma apenas risível. Carlos Bolsonaro, o Zero Dois do presidente da República, postou um vídeo nas redes sociais onde aparece à frente de uma estante repleta de livros. Descobriu-se que a estante é fake. Não passa de uma foto disponível em banco de imagens da internet. Carlos virou motivo de deboche.
A outra fraude é grave. O Ministério Público reuniu provas que apontam Flávio Bolsonaro, o Zero Um, como chefe de uma organização criminosa que agiu dentro da Assembleia Legislativa do Rio. Ele foi denunciado por desvio de dinheiro público e emprego de funcionários fantasmas no seu gabinete de deputado.
As investigações do Ministério Público se arrastaram por mais de dois anos. E contaram com a colaboração de Luiza Souza Paes, ex-funcionária do gabinete de Flávio, depois transferida para outras áreas da Assembleia. Em 2011, quando tinha apenas 20 anos, ela foi nomeada por Flávio assessora parlamentar.
Era vizinha no bairro de Oswaldo Cruz, subúrbio carioca, de Fabrício Queiroz, o operador financeiro da organização, segundo o Ministério Público. Após oito meses foi para a “TV Alerj”, que transmite as sessões da Assembleia. E, em seguida, para o setor de planos e orçamento ligado à presidência da Casa.
Na verdade, Luiza nunca deu um dia de trabalho. Ela e outros 11 assessores de Flávio repassaram boa parte dos seus salários para Queiroz. Só Luiza, R$ 155 mil. No seu caso, isso aconteceu durante cinco anos. Em 11 anos, o esquema operado por Queiroz, mas comandado por Flávio, movimentou R$ 6 milhões.
Diz o Ministério Público que Flávio e a mulher, Fernanda, usaram dinheiro vivo para pagar empregados, passagens de avião, quitar contas das família como a escola dos filhos, e até mesmo comprar apartamentos. Apesar da vida confortável que levava, Flávio gastava menos de 200 reais por mês com cartão de crédito.
No celular de Luiza foram encontradas trocas de mensagens com o pai dela, amigo de Queiroz, quando as primeiras investigações começaram a sair nos jornais.
7 dezembro 2018 – Pai: Caraca! Tu viu alguma parte do Jornal Hoje, hoje de tarde? Bateu direto naquele negócio do Queiroz (…) Direto isso, a foto dele estampada na tela do jornal hoje. Agora deu ruim!
26 dezembro 2018 – Pai: Contanto que te tire disso e esqueça isso de uma vez e a gente possa viver nossa vida normalmente, ele que invente as histórias dele lá.
Dias mais tarde, Luiza foi chamada por um funcionário da presidência da Assembleia para preencher a folha de ponto, que ela confessou nunca ter assinado:
21 janeiro 2019 – Luiza: Oi, pai. (…) Parece que falta algum ponto que não tá assinado. Só que eu não lembro de ter assinado algum ponto, entendeu?
O pai de Luiza orientou a filha a não ir:
Pai: Eles querem pegar um “bucha” que é pra ver se desentoca alguma coisa.
Em abril do ano passado, Luiza e mais 94 pessoas ligadas a Flávio tiveram o sigilo bancário quebrado com autorização da Justiça.
14 maio 2019 – Luiza: Já viu as notícias? Quebraram o sigilo bancário de um monte de gente. Provavelmente o meu também.
Pai: Já vi e já estragou meu dia isso.
Outras 14 pessoas são alvos da denúncia. Entre elas, a mulher e a mãe do ex-policial militar Adriano da Nóbrega, acusado de comandar um grupo de extermínio e ter ligação com a milícia do Rio, morto numa operação policial na Bahia em fevereiro de 2020. Adriano teria repassado a Queiroz algo como 400 mil reais.
A defesa de Flávio jura que ele é inocente. A de Queiroz, também. Essa, não explicou até hoje por que Queiroz e Márcia, sua mulher, depositaram 89 mil reais na conta bancária de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama.