Nenhum outro chefe de estado ficou tão apreensivo em relação aos resultados das eleições americanas de 2020 como Jair Bolsonaro.
A iminente derrota de Donald Trump, com toda a máquina governamental trabalhando a seu favor, acendeu uma luz vermelha de alerta para o bolsonarismo.
No Planalto já se pressente, com indisfarçado desespero, que o bom e velho “eu sou você amanhã”, mais conhecido como “efeito Orloff” (até então aplicado somente aos fenômenos políticos e econômicos observados na Argentina e Brasil, nesta ordem) poderá perfeitamente ocorrer por aqui em 2022, no que tange à desastrada experiência trumpista nos EUA.
E a sensação que as evidências da derrocada de Trump deixa, nas hostes bolsonaristas, é de total orfandade e desolação. O trumpismo é a fonte filosófica do gabinete do ódio do Planalto. Mentores de Trump, como Steve Bannon, são a origem intelectual da estratégia de disseminação em massa de calúnias e da usina de destruição instantânea de reputações posta em prática por aqui nas redes sociais. Sem Trump no poder, o bolsonarismo se tornará uma filial isolada e perdida de sua matriz ideológica. E Bolsonaro sabe disso.
Ademais, a forma como as falsas notícias sobre fraudes ocorridas nas eleições americanas estão pipocando por aqui, tendo como origem usuários dos dois países, nos faz crer que o trumpismo e o bolsonarismo compartilham e integram uma única rede de fake news.
Essa situação se agrava quando percebemos que as inverdades e acusações – sem exibição de provas – são vocalizadas pelo próprio presidente Trump, de dentro da Casa Branca.
E a prova da enorme rejeição a Donald Trump é o fato de que Joe Biden foi o candidato a presidente mais votado em toda a história das eleições daquele país, e esse record ocorre em meio a uma terrível pandemia e num país em que o voto não é obrigatório.
Bolsonaro repete, como um macaco de imitação, exatamente as mesmas falhas de Trump, e o faz como quem segue uma cartilha. A insensibilidade explícita e os erros crassos cometidos durante a pandemia do covid-19, a falta de comprometimento e irresponsabilidade com as urgências ambientais do planeta, a tendência ao isolacionismo e a aversão ao multilateralismo, a arrogância e intolerância que aprofundam o divisionismo dos países que comandam, são algumas das semelhanças entre os dois governantes.
Vergonhoso também é o viralatismo que caracteriza a atual política de Bolsonaro em relação ao EUA, de puras submissão e adesão automática a simplesmente tudo que emana de Trump.
E o nosso presidente, assim como seu colega do norte, pode vir a colher o que plantou: uma profunda fadiga da sociedade em relação as suas posturas, suas falas, seus trejeitos e até à sua imagem e voz.
Os eleitores brasileiros sabem que o vento que venta lá, vai ventar aqui. A receita que está levando o povo estadunidense a ejetar Trump da Casa Branca já está em curso no Brasil. O processo de desgaste político, que pode provocar a derrocada do trumpismo, tende a ocorrer exatamente da mesma forma, e por conta dos mesmos fatores, em relação ao bolsonarismo.
Donald Trump e Jair Bolsonaro são efetivamente two of a kind.
O presidente dos Estados Unidos, assim como o nosso, inspira diariamente humoristas e imitadores. Eles são a piada pronta em forma de chefes de governo. Alimentaram e vitaminaram legiões de seguidores fanáticos, incentivaram a disseminação de fake news e aprofundaram a terrível polarização política das sociedades americana e brasileira.
Ambos fazem muito mal aos seus respectivos países.
E Trump já irá tarde. Mas para nós brasileiros, o melhor de sua possível derrota eleitoral é que estamos autorizados a acreditar que em 2022 também nos livraremos do nosso pesadelo.