Troca de mensagens obtidas pela reportagem entre o vistoriador e um despachante incriminam a dupla, de acordo com a Polícia Civil. Ação aconteceu na manhã desta quarta-feira (14) em Novo Hamburgo e São Leopoldo.
A Polícia Civil prendeu preventivamente, durante uma operação na manhã desta quarta-feira (14) em Novo Hamburgo e São Leopoldo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um vistoriador do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e um despachante por suspeita de envolvimento em um esquema de corrupção para regularizar veículos no Rio Grande do Sul.
De acordo com o delegado Augusto Zenon, eles cobravam entre R$ 800 e R$ 1,8 mil para facilitar os processos de regularização veicular do departamento em um Centro de Registro de Veículos Automotores (CRVA) de São Leopoldo. A investigação policial indica que a fraude era praticada desde junho de 2022. Dez casos já foram identificados, mas podem chegar a 61.
“O despachante levava a pessoa interessada no serviço até esse CRVA e a maior parte dos casos caia com esse vistoriador. Assim, ele facilitava regularizações relacionadas, por exemplo, a condição de pintura, das rodas, identificação de chassi, motor e até transferência de unidade federativa. Há suspeita de que haja casos de regularização de automóveis clonados, fruto de furto ou roubo”, explica o delegado Zenon.
Os dois presos devem responder por crimes como corrupção ativa e passiva. As casas deles e o CRVA de São Leopoldo foram alvo de mandados de busca e apreensão com o objetivo de reunir provas que ajudem a indicar a responsabilidade dos presos e identificar outros participantes do esquema.
Eles foram encaminhados para um delegacia de polícia e, então, para uma casa prisional.
Como o esquema foi descoberto
De acordo com o delegado Augusto Zenon de Moura Rocha, a investigação começou depois que a Polícia Civil recebeu uma denúncia encaminhada pela corregedoria do Detran.
Uma pessoa que mora no Paraná disse que comprou um automóvel no Rio Grande do Sul e, ao dar entrada no processo de transferência, foi informado pelo Detran paranaense que, devido a problemas no documento de origem, a regularização deveria ser feita no Detran gaúcho. Essa pessoa, então, enviou uma vistoria lacrada ao antigo proprietário, que mora em Novo Hamburgo e foi até um CRVA, mas ele não conseguiu fazer o procedimento no local.
Por conta disso, o antigo proprietário procurou o despachante. Ele repassou o orçamento para a realização do serviço, que envolvia a correção de dados de identificação e troca das placas, bem como um adicional que seria repassado ao vistoriador do CRVA para garantir a regularização veicular.
Ao perceber que se tratava de um procedimento ilegal, o morador do paraná denunciou o caso à corregedoria do Detran, que motivou a polícia a cumprir mandados de busca e apreensão na casa e no escritório do despachante, onde houve a apreensão de um aparelho de telefone celular em que estavam mensagens de áudio e texto trocadas entre o despachante e o vistoriador do CRVA. Elas não só confirmavam a denúncia, mas expunham outras. Veja:
“Então, o que é que vai ser naquele ali do documento ali? Quinhentos [reais] para cada? Quinhentos [reais] para mim e quinhentos [reais] para ela? Isso. Para eu falar para ela aqui. Estava meio cabreiro de fazer, mas vamos meter que é bem bom”.
E o outro responde:
“Ô, bonitão, eu vou ser bem sincero contigo: se for por medo de algum CRVA fazer alguma denúncia, ou estar consultando, pode ter certeza que não vai dar nada”, afirma.
No decorrer da conversa, constam transferências bancárias realizadas pelo despachante para familiares do vistoriador. Inclusive, há um diálogo sinalizando que há uma conta conjunta entre os dois para o fornecimento de empréstimo de dinheiro a juros para terceiros.