Imagens foram gravadas por um motociclista que fazia entregas por aplicativo e presenciou o momento em que João Alberto Silveira Freitas foi levado por seguranças a estacionamento do Carrefour e agredido até a morte. Ele relata ter sido ameaçado pela funcionária. Homem negro morto no Carrefour: o crime e a repercussão
A morte de João Alberto Silveira Freitas na noite de quinta-feira (19), em Porto Alegre, foi testemunhada por diversas pessoas e registrada no celular de um motoboy que não quis ser identificado. O entregador, que prestava serviço por aplicativo na loja do Carrefour do Passo D’Areia, flagrou o momento em que uma funcionária tenta intimidá-lo a não gravar.
“A gente só tava conduzindo ele. A gente só tava tentando imobilizar. Se a senhora conseguir acalmar ele, a gente tira todo mundo de cima dele”, disse a funcionária ao grupo de testemunhas.
“Tranquilizar, tudo bem, mas não isso aí”, responde o motociclista.
As agressões e a imobilização duraram mais de cinco minutos. De acordo com a delegada Roberta Bertoldo, a funcionária se chama Adriana Alves Dutra e foi ouvida durante a prisão em flagrante. Ainda será analisado se ela teve participação no crime.
“Todos que aparecem nos vídeos terão suas condutas avaliadas”, diz a delegada.
Laudo inicial da perícia aponta asfixia como causa da morte
FOTOS: as manifestações pela morte de homem negro em supermercado de Porto Alegre
PM envolvido não tinha registro para trabalhar como segurança, diz Polícia Federal
Manifestantes protestam na frente de supermercado Carrefour
Veja imagens de João Beto dentro do supermercado de Porto Alegre
O motoboy contou ao G1 que gravou parte do espancamento em uma tentativa de fazer com que eles parassem com as agressões.
“Eu disse: ‘Ô gente, eu vou filmar’. E fui filmando. Quando eu tô chegando perto, vem essa moça de branco e diz: ‘Pode parar, eu vou te queimar na loja’, descreve.
Depois, Adriana ainda alega que João teria desferido um soco e torcido seus dedos. “Eu só não apanhei porque eu fugi”, diz, na gravação.
O motoboy, entretanto, diz que seguiu gravando por considerar a agressão desproporcional.
“Eu fiquei na dúvida. Será que vão fazer alguma coisa comigo? Eu disse: ‘Não, tranquilo. Eu não vou fazer mais entrega pra vocês. É minha última entrega. Só que o que vocês tão fazendo tá errado'”, relata.
João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte por seguranças em supermercado de Porto Alegre
Reprodução
Para o motoboy, em momento algum a ação dos seguranças foi para conter João. “Eu não sei se foi racismo, mas a intenção deles não era imobilizar. Eles estavam com raiva”, afirma.
Ainda segundo o motoboy, ela pediu para apagar as imagens. Porém, ele parou a gravação, guardou o telefone e deixou o local após a chegada da polícia. A intenção dele, agora, é evitar trabalhar com entregas no local.
“É um ato covarde, brutal. Eu acho que ninguém tem que passar por isso daí”, comenta.
O crime
A Brigada Militar – como é conhecida a PM no Rio Grande do Sul – informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado, que fica na Zona Norte da capital gaúcha. A vítima teria ameaçado bater na funcionária, que chamou a segurança.
O Carrefour informou, em nota, que lamenta profundamente o caso, que iniciou rigorosa apuração interna e tomou providências para que os responsáveis sejam punidos legalmente.
A rede, que atribuiu a agressão a seguranças, também chamou o ato de criminoso e anunciou o rompimento do contrato com a empresa que responde pelos funcionários agressores.
O policial militar Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, não tinha o registro para atuar como segurança, informou a Polícia Federal. Segundo a Brigada Militar informou que o PM envolvido na agressão é “temporário” e estava fora do horário de trabalho.
Segundo o comunicado, as atribuições dele na corporação são limitadas à “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos”. A Brigada não informou o que ele fazia no mercado.
O outro detido é o segurança Magno Braz Borges, de 30 anos. Ele tem a carteira nacional do vigilante, mas não consta no banco de dados com vínculo à empresa que prestava serviço ao supermercado e terá o registro suspenso, de acordo com a PF.
Eles foram presos em flagrante e tiveram a prisão revertida em preventiva. O advogado William Vacari Freitas, que defende Magno, disse ao G1: “Vamos aguardar o resultado das perícias e das demais investigações”.
Já o advogado David Leal, que assumiu a defesa de Giovane, afirma que seu cliente relatou que João Alberto “estava alterado” e “deu um encontrão em uma senhora” no supermercado. Eles devem ser indiciados por homicídio triplamente qualificado.
Veja os destaques:
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