Criatividade, opção e segurança: essas tem sido três palavras guiam a volta do setor de turismo, um dos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. Sem elas, a retomada seria inviável. A CVC, maior operadora de turismo do Brasil, passou a ampliar sua oferta de hospedagem colocando em seu portfólio uma modalidade já conhecida dos brasileiros na hora de viajar, mas que não era foco de quem procurava a agência de viagens: o aluguel de férias. Por meio da subsidiária VHC, que presta o serviço de aluguel de casas para férias nos Estados Unidos e em Miami, o serviço chegou ao Brasil em outubro, com oferta de 40 hospedagens em Gramado, e é uma das apostas para fomentar as viagens. Segundo a companhia, para este fim de ano, as casas de condomínio oferecidas pela VHC estarão disponíveis também em Canela (RS), Bombinhas (SC), litoral norte de São Paulo a partir da Riviera de São Lourenço, Península de Maraú (BA) e Praia do Forte (BA), totalizando mil propriedades no país.
A aposta é em localidades com baixa ou nenhuma oferta hoteleira, mas com condomínios fechados. A diferença para o Airbnb ou mesmo da contratação direta com o proprietário é que há assistência 24 horas, como acontece na recepção de um hotel, e limpeza diária. As casas oferecem serviços de hospitalidade, como gestão da dispensa e compras de alimentos e bebidas, decoração personalizada, concierge com atendimento para reservas em restaurantes e atrações. “A ideia é combinar conforto de uma casa com as comodidades de um hotel”, afirma Fábio Cardoso, fundador e diretor geral da VHC. Nas propriedades disponíveis em Gramado, o valor da diária varia entre 150 reais e 280 reais. Cardoso explica que o serviço é de mão dupla: o proprietário que aluga seu imóvel pela empresa tem toda a administração (pagamento de contas de consumo e gestão de fornecedores) feito pela VHC.
De acordo com um levantamento da consultoria Phocuswright de 2019, a categoria “aluguel de casas de temporada” é a segunda maior do mercado de hospitalidade, atrás apenas das redes hoteleiras, movimentando globalmente cerca de 170 bilhões de dólares – sendo que o mercado americano corresponde em torno de 25% deste valor. “Além de Estados Unidos, também a Europa e a Austrália possuem operações muito fortes nesse sentido e há um potencial enorme no Brasil. É nisso que estamos de olho”, diz Cardoso.
Segundo Sylvio Ferraz, diretor executivo de negociação com fornecedores da CVC Corp, já estava nos planos da companhia a estratégia para as férias de verão no Brasil em 2020, porém a pandemia trouxe fatores que favoreceram a aposta no novo serviço. De acordo com uma pesquisa da Expedia sobre intenções futuras de viagens, 9 em cada 10 viajantes mencionaram em setembro e outubro deste ano que se sentiriam mais confortáveis em viajar para casas de temporadas, devido a questões como saúde e higiene. Além da segurança, o aumento da procura por destinos próximos aos grandes centros — que, por muitas vezes, tem pouca opção hoteleira — também ajudou. Juntando esses fatores com o “novo normal” com trabalho e educação remota, a oportunidade de viajar existe. “Nós estamos agregando mais uma opção”, disse.
A VHC entrou no grupo CVC em 2017, com a aquisição da Trend. No ano passado, a CVC, que tinha 30% da VHC aumentou sua participação em 70%. A empresa é atualmente a maior no setor de administração de casas em Orlando. Em 2019, foram 326 mil diárias, crescimento de 130% em relação a 2018.
Com a oferta de casas de temporada dentro do portfólio da CVC, a empresa aumenta a opção de costomização da experiência turística. Apesar de ser conhecida pelos pacotes, a companhia afirma que atualmente quase toda a totalidade de viagens oferecidas são customizadas – em que o cliente pode viajar com seu próprio carro, fazer a sua programação e adquirir serviços avulsos nas agências, como ingressos e hospedagens, contando com apoio de consultores para orientações sobre o destino ou remarcações. Por exemplo: o cliente pode escolher alugar uma casa, um carro e contratar passeios com a CVC, montando sua própria programação, mas pagando em dez vezes sem juros, assim como em um pacote tradicional.
Procura
A reabertura das atividades tem tido reflexos também no turismo. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), setembro foi o melhor mês para o setor desde março. Foram movimentados 12,8 bilhões de reais, alta de 28% em relação a agosto. Os indicadores da CVC vão na mesma linha. Segundo a companhia, em setembro, os orçamentos solicitados pelos clientes do segmento lazer atingiram cerca de 65% do volume do mesmo período do ano anterior. A maioria das consultas de preços sinaliza o desejo do cliente em viajar dentro do Brasil nos próximos meses. Com relação a margem sobre novas vendas, ainda em setembro, foi de aproximadamente dois pontos percentuais acima dos valores valores observados em 2019 em função do crescimento do mix de vendas de produtos nacionais.
A região do Nordeste lidera como a preferida entre os brasileiros – em especial destinos como Natal, Maceió, Fortaleza, Porto de Galinhas, Recife e Salvador. Em comum, os destinos mais procurados no momento têm grande número de atrativos turísticos ao ar livre, caso também da Serra Gaúcha e, também, dos parques nacionais Foz do Iguaçu, Bonito e Jericoacoara.