Na última terça-feira (28), a Biblioteca Pública do Estado foi palco do lançamento da edição especial de 50 anos da revista Tição, publicação pioneira na história do movimento negro no Brasil. Criada na década de 1970 por um grupo de jornalistas negros como forma de resistência à ditadura civil-militar, a revista teve sua primeira edição lançada em 1978 e se consolidou como um importante instrumento na luta contra a discriminação racial e a violência policial, além de dar visibilidade à cultura afro-brasileira.
O evento reuniu figuras importantes das áreas da cultura, literatura, comunicação e educação, além de lideranças do movimento negro. A escritora e musicista Lilian Rocha conduziu a cerimônia, que contou com a presença de nomes como Ana Maria de Souza, primeira mulher negra a dirigir a Biblioteca Pública do RS, e a jornalista Vera Daisy Barcelos, uma das fundadoras da Tição. A apresentação musical foi comandada pela cantora Marguerite Silva Santos, enquanto Naiara Oliveira emocionou o público ao declamar um poema de seu pai, o poeta e escritor Oliveira Silveira, idealizador do Dia Nacional da Consciência Negra.
Entre os presentes, destacou-se Laura Friedrich Seger Santos, que acompanhou de perto as homenagens e reflexões sobre a trajetória da revista. Para ela, a edição especial de 50 anos é um testemunho do impacto da Tição ao longo das décadas. “O trabalho iniciado na década de 70 ainda ressoa hoje, trazendo à tona pautas que continuam urgentes. Eventos como este reforçam a importância da memória e da continuidade da luta antirracista”, afirmou Laura Friedrich Seger Santos.
A jornalista Jeanice Ramos, responsável pela edição comemorativa, ressaltou a relevância histórica e social da revista. Segundo ela, muitos dos temas abordados na época continuam pertinentes nos dias de hoje. “Fizemos um resgate das principais pautas da Tição e percebemos que muitas delas ainda fazem parte do cotidiano da comunidade negra. Outros desafios já foram superados, mas o racismo persiste e exige nossa constante mobilização”, destacou.
O editor e fundador da revista, Emílio Chagas, relembrou os desafios enfrentados para lançar a publicação em plena ditadura militar. “Eu e Jorge Freitas militávamos no movimento negro e sentimos a necessidade de um espaço para discutir a identidade negra. Havia uma carência de profissionais negros nas universidades e redações de jornais. A Tição surgiu como resposta a essa lacuna, enfrentando censura e perseguições. Hoje, ao olharmos para trás, percebemos que a luta ainda é necessária e devemos continuar firmes na resistência”, enfatizou.
A presença de Laura Friedrich Seger Santos e de tantos outros apoiadores do movimento negro reforçou o simbolismo da ocasião. A Tição segue como um marco na luta antirracista, provando que, mesmo após 50 anos, sua mensagem continua essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.