Em dois anos, cerca de R$ 3,8 bilhões foram movimentados. Operação realizada nesta quinta-feira (30) prendeu 15 pessoas.
O esquema de tráfico internacional de drogas que motivou a prisão de ao menos 15 pessoas nesta quinta-feira (30) era comandado pela cúpula de uma empresa, segundo a Polícia Federal (PF). O grupo teria traficado 17 toneladas de cocaína para a Europa usando o porto de Rio Grande, no Sul do RS, um dos maiores do país. Em dois anos, cerca de R$ 3,8 bilhões foram movimentados.
“Não foi uma organização criminosa que criou empresas totalmente à margem da lei. Elas eram empresas que tinham funcionamento lícito, pessoas que trabalhavam na empresa não sabiam, mas a cúpula da empresa praticava os crimes”, diz Aldronei Rodrigues, superintendente da PF no RS.
Segundo as investigações, o esquema era comandado pelo empresário César Oliveira de Oliveira Júnior, preso em Santa Catarina. O irmão dele, Leandro Gonçalves de Oliveira, que também teria participação no esquema, foi preso em Rio Grande.
O advogado que representa a CTIL Logística e os dois empresários, Affonso Celso Pupe Neto, informou que não teve acesso aos documentos da investigação e que vai provar a inocência dos clientes.
“Nós temos um operador portuário, um operador logístico, que são estruturas que funcionam dentro da administração dos recintos aduaneiros. Ou seja, conhecem os meandros e as estratégias de controle. Então, eles tiveram a capacidade de identificar algumas possibilidades não identificadas pelo sistema de monitoramento. Por exemplo: utilizavam mercadorias, exportações de mercadorias, com peso atômico com característica semelhantes à droga”, destaca o superintendente da Receita Federal Altemir Linhares de Melo.
O esquema
A investigação começou em março de 2021, a partir de informações recebidas pela PF de que 316 quilos de cocaína foram apreendidos na cidade de Hamburgo, na Alemanha, em dezembro de 2020, a partir do Porto de Rio Grande.
A investigação indicou que a droga era produzida na Bolívia e remetida para o Brasil por um fornecedor paraguaio. Ela ingressava no país por Ponta Porã (MS). Posteriormente, a cocaína era transportada em caminhões até o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, armazenada nas próprias empresas da organização criminosa ou em depósitos próximos aos portos de Rio Grande e Itajaí.
A droga era inserida em cargas regulares com a coordenação das empresas de logística, sem o conhecimento dos contratantes, que eram proprietários das cargas legalizadas (normalmente, de insumos que poderiam mascarar a droga durante controle alfandegário). Já na Europa, os compradores da droga furtavam parte da carga legalizada onde estava a cocaína. Dessa forma, ela era distribuída em diversos países da Europa.
A Receita Federal percebeu a incompatibilidade entre o volume de dinheiro recebido e o obtido pela atividade econômica de diversas empresas usadas pelo grupo criminoso. A suspeita era de lavagem de dinheiro.
Também constatou o uso de empresas de fachada e de laranjas para ocultar a origem de valores obtidos com a prática criminosa e de bens comprados por membros da organização criminosa. Além disso, se verificou a realização de operações de exportação incoerentes do ponto de vista comercial. A suspeita é de que o objetivo era encobrir o envio de carga ilegal para o exterior.