App Laudelina venceu o prêmio Equals in Tech 2020 na categoria ‘acesso’, em Genebra, na Suíça. Ferramenta para integrar e esclarecer a categoria sobre direitos tem mais de 4,5 mil usuários ativos. App Laudelina foi criado visando facilitar o trabalho das trabalhadoras domésticas
Themis/Divulgação
O aplicativo Laudelina, desenvolvido em Porto Alegre e destinado a facilitar o trabalho de trabalhadoras domésticas de todo o Brasil, venceu o prêmio Equals in Tech 2020 na categoria “acesso”, em Genebra, na Suíça. Mais do que a premiação internacional, o app já ganhou o reconhecimento de mais de 4,5 mil usuários.
A ferramenta foi criada para oferecer serviços gratuitos a trabalhadoras sobre seus direitos e deveres. Feito em parceria entre a startup Conceptu Protótipos e Sistemas e a Themis, organização que orienta mulheres contra a discriminação no sistema de justiça, o Laudelina concentra as informações necessárias a muitas trabalhadoras que são, em sua maioria, mulheres negras.
“É um aplicativo que não é feito para as usuárias, mas com elas. Além de reuniões de construção conjunto durante o desenvolvimento do software, foram realizadas caravanas e oficinas nos sindicatos para educação digital. A gente conversava sobre a realidade do trabalho doméstico na cidade, no país, escutando as angustias e questionamentos das trabalhadoras”, afirma a coordenadora de projetos da Themis Jéssica Miranda Pinheiro.
Funcionalidades
O aplicativo tem diversas funcionalidades. Entre elas, a legislação trabalhista explicada de modo simples, em texto e áudio, o cálculo de benefícios, no qual a trabalhadora pode calcular o salário, 13º e férias e uma rede de contatos, que ajuda a aproximar realidades semelhantes que às vezes estão distantes.
“A rede de contatos funciona através do georreferenciamento junto ao Facebook, já que a categoria trabalha isolada nas casas, diferente de outras que trabalham em conjunto, como professores e trabalhadores de uma fábrica, por exemplo. O aplicativo permite essa conexão nas cidades, e a gente também sinaliza a importância de buscar o sindicato da região para buscar organização e negociação com o empregador”, aponta Jéssica.
Ernestina Santos Pereira, 62 anos, trabalha como doméstica desde os 14 anos. Ela é integrante do Conselho Nacional das Trabalhadoras Domésticas e diretora do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Pelotas.
Militante social desde 1987, lutou por uma regulamentação da profissão por mais de 20 anos. Mesmo que, em meados desta década, com a Emenda Constitucional 72 (PEC das Domésticas) e a Lei Complementar 150, que estabeleceram direitos básicos como o limite da jornada de trabalho e o pagamento de horas extras, Ernestina acredita que a busca por condições melhores de trabalho deve ser permanente.
“Houve mais entusiasmo da categoria em se sentir mais valorizada. Porém, houve mais mobilização dos escravagistas a burlarem os avanços da categoria, tipo horas extras, seguro desemprego, abono família”, critica.
Por isso, ela aponta o Laudelina como uma ferramenta de, também, dar voz à classe. “O objetivo é divulgar os direitos e os deveres, tanto das trabalhadoras quanto dos empregadores. Sinto-me feliz quando vejo as trabalhadoras irem ao sindicato conferirem o que encontraram no aplicativo. É uma ferramenta que ajuda muito as trabalhadoras, trabalhadores e também as patroas”, pontua.
Coordenadora da Themis fala sobre o app Laudelina
Homenagem
O nome do aplicativo é uma homenagem a Laudelina de Campos Melo, ativista do movimento negro que criou, em 1936, em Campinas, São Paulo, a primeira associação de trabalhadoras domésticas no Brasil.
Embora a tecnologia tenha mudado em mais de oito décadas, a essência da luta dessas mulheres é a mesma: independência.
“Dados mais recentes do IBGE apontam que cerca de 68% [das domésticas] são mulheres negras. Mesmo com a forte discriminação, o trabalho doméstico é uma fonte de autonomia financeira para as mulheres”, sublinha Jéssica.
Prêmio
O app se destacou no Equals in Tech Award entre 340 indicações de 19 países. Foi um dos 25 finalistas em cinco categorias e, na categoria “acesso”, venceu indicados da Índia, Paquistão, Quênia e Zâmbia.
Os prêmios são concedidos para realizações e estratégias inovadoras em áreas do mundo onde as mulheres são mais excluídas dos benefícios da tecnologia digital.
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