Um almoço no Ministério da Fazenda nesta quinta-feira (16), antes da reunião do Conselho Monetário Nacional, foi marcado por um clima de “harmonia para o futuro” entre os três integrantes do colegiado:
- o ministro da Fazenda, Fernando Haddad;
- a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet;
- e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Nesta sexta-feira (17), durante entrevista, Haddad disse que o encontro durou cerca de duas horas e foi uma “primeira boa aproximação”. A conversa, conforme o ministro, girou em torno do alinhamento das políticas fiscal e monetária.
Segundo os participantes, o clima foi tranquilo, sem tensão, com os três conversando sobre como a economia deveria reagir positivamente após a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária – duas medidas que permitiriam o início da queda dos juros.
A avaliação é que o clima de guerra entre Fazenda e Banco Central acabou.
Segundo interlocutores de Fernando Haddad e Campos Neto, eles estão agora alinhados em desenvolver em conjunto uma estratégia para harmonizar a política fiscal e monetária.
“Não interessa ao Campos Neto ficar defendendo juros altos. Ele prefere reduzi-los, como fez no governo Bolsonaro, mas depois foi obrigado a aumentar por causa da inflação”, disse um aliado do presidente do BC.
Do lado de Haddad, a avaliação de sua equipe é que, apesar dos ruídos, a tensão das últimas semanas ajudou a aproximar o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central.
Tanto que Campos Neto passou a dar declarações favoráveis às medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda e defendeu que o mercado tenha “boa vontade” com o governo Lula.
A expectativa agora é que até o presidente Lula pare de atacar Campos Neto, mas ontem ele manteve pelo menos as alfinetadas na direção do presidente do BC.
“Como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central e eu mal conheço. Se ele topar, vou levá-lo para conhecer os lugares mais miseráveis desse país. Ele tem que saber que, neste país, a gente tem que governar para as pessoas que mais necessitam”, afirmou Lula.
Lula, inclusive, disse que vai repensar a autonomia do Banco Central, mas só depois de terminar o atual mandato de Roberto Campos Neto.
Ele foi aconselhado por amigos a não tratar do tema enquanto o atual presidente do BC estiver à frente da autoridade monetária.
Interlocutores do presidente Lula pediram que ele pare os ataques ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, e lembram que o próprio comandante do BC sabe que, se errar, sairá com sua reputação chamuscada e perderá credibilidade.
Na avaliação destes interlocutores, Campos Neto já entendeu que ter autonomia não significa fazer oposição ao Palácio do Planalto. Dentro do governo, a avaliação segue que não há espaço para tirar Campos Neto do cargo nem revogar a autonomia do BC.