“A Enfermagem e a Evolução de Traumas Pessoais dos Enfermeiros Após a Pandemia da COVID-19”

Este artigo tem como principal objetivo trazer para o debate os impactos psicológicos e emocionais enfrentados pelos enfermeiros durante e após a pandemia da COVID-19, com ênfase na evolução dos traumas pessoais decorrentes do período de crise sanitária iniciada em 2020 até os dias de hoje. O objetivo central foi compreender como os profissionais de enfermagem lidaram com as consequências emocionais e psicológicas advindas de sua atuação na linha de frente e identificar estratégias que promoveram o enfrentamento e a resiliência. Para alcançar tais objetivos, foi realizada uma análise bibliográfica e documental, complementada pelo estudo de materiais jornalísticos publicados entre 2020 e 2024.

Entre os autores revisados, destaca-se Maslach (2016), cuja teoria sobre o burnout no ambiente de trabalho ajudou a compreender como o estresse ocupacional impactou os profissionais durante a pandemia. Além disso, Silva e Ferreira (2021) foram fundamentais para abordar os desafios enfrentados pelos enfermeiros em contextos de emergência, destacando os efeitos cumulativos do estresse sobre a saúde mental. Em paralelo, a revisão de reportagens em veículos jornalísticos como Folha de S.Paulo e O Globo forneceu narrativas detalhadas de enfermeiros, revelando as complexidades emocionais e profissionais do período.

Os resultados da análise apontaram que muitos enfermeiros experimentaram altos níveis de estresse, ansiedade e sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), exacerbados pelas longas jornadas de trabalho, pela falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), a divisão de opiniões da sociedade e pelo luto causado pela perda de pacientes e colegas. Contudo, observou-se também a adoção de estratégias de enfrentamento, como busca por apoio psicológico, fortalecimento de redes de apoio social e maior adesão a programas de autocuidado. Concluiu-se que, embora a pandemia tenha causado impactos profundos e duradouros na saúde mental dos enfermeiros, ela também abriu espaço para reflexões importantes sobre o papel do autocuidado e da valorização profissional.

O estudo destaca a necessidade de políticas públicas mais efetivas, que incluam programas de saúde mental e melhorias nas condições de trabalho, para prevenir e mitigar os efeitos de futuros cenários de crise. A valorização dos profissionais da saúde vai além de reconhecimento moral, sendo essencial para a sustentabilidade do sistema de saúde e o bem-estar dos trabalhadores que o sustentam.

1. A pandemia da COVID-19: Apresentação da problemática e os métodos para análise

A pandemia da COVID-19, que começou em dezembro de 2019 na China, trouxe profundas transformações sociais, econômicas e sanitárias no mundo e não foi diferente no Brasil. Desde a confirmação do primeiro caso em fevereiro de 2020, o país vivenciou diversas ondas da doença, enfrentando desafios relacionados à gestão da saúde pública, estratégias de mitigação e campanhas de vacinação.

A pandemia de COVID-19 teve um impacto sem precedentes no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 38 milhões de casos foram registrados no país até novembro de 2024, com aproximadamente 750 mil mortes confirmadas, tornando o Brasil um dos países mais afetados no mundo, ficando atrás apenas dos EUA, que teve aproximadamente 1,2 milhões de mortos (OMS, 2024). Esses números demonstram a gravidade da crise sanitária e a necessidade de ações contínuas de mitigação e prevenção.

Desde o início da pandemia, estratégias de enfrentamento foram baseadas em evidências científicas e relatórios de organizações governamentais e científicas, como a Fiocruz. Entre as medidas adotadas estavam o distanciamento social, o famoso “lockdown”, a obrigatoriedade do uso de máscaras e as campanhas de vacinação em massa. A vacinação, iniciada em janeiro de 2021, foi um marco importante na redução de casos graves e mortes. Até 2024, mais de 80% da população brasileira completou o esquema vacinal básico, embora desafios como a distribuição desigual entre estados e hesitação vacinal tenham limitado resultados em algumas regiões.

O cenário atual indica uma estabilização relativa, mas com o surgimento de novas variantes e a persistência de casos, o monitoramento contínuo é essencial. Segundo a Fiocruz, modelos matemáticos e análises epidemiológicas têm sido fundamentais para prever cenários e orientar políticas públicas. Além disso, o impacto econômico e social da pandemia permanece significativo, especialmente em populações vulneráveis, evidenciando a necessidade de um sistema de saúde resiliente e inclusivo.

Ao longo de toda a pandemia, mais de 4.500 profissionais de saúde perderam a vida no Brasil até dezembro de 2021, de acordo com levantamentos realizados com dados de fontes oficiais como o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). A maior parte das vítimas era formada por técnicos e auxiliares de enfermagem, seguidos por enfermeiros e médicos, refletindo a exposição direta desses profissionais na linha de frente de atendimento à população.

2. Como os Traumas Pessoais Afetam os Profissionais de Enfermagem no Desempenho de Suas Funções e os Impactos da COVID-19

O trauma psicológico é uma experiência que pode alterar profundamente a forma como os indivíduos enxergam e interagem com o mundo ao seu redor. Para profissionais de enfermagem, que frequentemente se encontram em situações de alta pressão emocional, o impacto de traumas pessoais pode ser ainda mais pronunciado. Esses profissionais, ao mesmo tempo em que precisam gerenciar suas emoções e oferecer cuidado humanizado, podem carregar consigo experiências traumáticas que afetam diretamente o desempenho no trabalho.

Estudos demonstram que a exposição a traumas pessoais não resolvidos pode intensificar o desgaste psicológico, aumentando a suscetibilidade a transtornos mentais como ansiedade, depressão e burnout. 

Professora Esp. Roberta das Graças Bezerra Galvao

Entre os tipos de traumas relatados com maior frequência entre os profissionais de enfermagem, segundo dados do COREN (2022), estão:

  • Perdas familiares significativas: A morte de entes queridos pode deixar marcas emocionais duradouras, especialmente quando há pouco tempo para luto devido às demandas do trabalho.
  • Experiências de violência doméstica: Enfermeiros que vivenciam abuso físico, psicológico ou emocional frequentemente enfrentam dificuldades em manter a concentração no ambiente de trabalho.
  • Vivência de catástrofes ou acidentes: Esses eventos podem resultar em reações exacerbadas a situações críticas no ambiente hospitalar.

3. Estratégias de Enfrentamento e Suporte para os Enfermeiros Durante e Pós-Pandemia de COVID-19

A pandemia trouxe desafios imensos para os profissionais de saúde, especialmente para os enfermeiros, que foram essenciais no enfrentamento da crise sanitária. Além do trabalho físico extenuante e do risco constante de contágio, muitos enfrentaram sérios impactos emocionais e psicológicos. Diversas estratégias de enfrentamento e suporte foram implementadas, tanto a nível institucional quanto individual, destacando-se:

  • Suporte psicológico e terapias virtuais: Instituições de saúde introduziram linhas de apoio psicológico e sessões de terapia online.
  • Criação de ambientes de descanso: Hospitais criaram espaços específicos para descanso e recuperação emocional.
  • Educação em saúde mental e mindfulness: Workshops de mindfulness e técnicas de gerenciamento de estresse foram amplamente oferecidos.

4. Propostas para o Futuro: Caminhos para a Saúde Mental e a Sustentabilidade da Enfermagem

A construção de um futuro mais saudável e sustentável para os profissionais de enfermagem depende de ações coordenadas entre governos, instituições de saúde, universidades e a sociedade. Dada a gravidade e a prevalência dos traumas pessoais enfrentados por esses profissionais, é essencial propor intervenções efetivas para mitigar os impactos e promover o bem-estar. A saúde mental deve ser tratada como prioridade nas políticas públicas voltadas à área da saúde. Além disso, é fundamental o desenvolvimento de programas que promovam a valorização e o reconhecimento profissional.

Referências Bibliográficas

  • Dejours, C. (2007). Psicodinâmica do trabalho: O processo de subjetivação. Editora Cortez.
  • Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). (2021). Relatório sobre os impactos psicológicos da pandemia de COVID-19 em profissionais de saúde. Fiocruz.
  • Ministério da Saúde do Brasil. (2024). Painéis sobre a evolução da pandemia de COVID-19 no Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br.
  • Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). (2021). Impacto da COVID-19 na saúde dos profissionais de enfermagem.

Professora Esp. Roberta das Graças Bezerra Galvao

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