A morte de Oskar Coester, o inventor do aeromóvel, reabre um enigma: como uma inovação pode ser barrada – e por quê?
Na legendária Varig dos anos 1960, quando Rubem Berta lançava a maior companhia aérea brasileira na era do avião a jato, um jovem e circunspecto funcionário, Oskar Hans Wolfgang Coester, começava uma jornada discreta e singular. Observador meticuloso, o rapaz iria chegar à chefia do prestigiado setor de manutenção da Varig, garantindo a segurança e eficiência de aviões cada vez mais equipados com componentes eletrônicos. Ao deixar a companhia, em 1969, levaria com ele uma ideia, talvez cisma – e se as cidades pudessem ter um meio de transporte que fosse à prova de engarrafamentos, como os aviões? E se este veículo fosse leve, cujo grande peso fosse o das pessoas transportadas, e não o, digamos, peso morto da estrutura em si? E se não queimasse combustível para se mover?
Com a firme parceria de Elida, a esposa que embarcava nos projetos de futuro de Oskar e segurava as pontas no dia a dia para que ele despegasse do chão, o ex-Varig ia pouco a pouco testando possibilidades e, entre avanços e recuos, testes e ensaios noites e fins de semana adentro, acabou engendrando um intrigante trenzinho em trilhos suspensos que era movido a ar – ou “propulsão pneumática”, como tecnicamente se diz.
Surgia o Aeromóvel.
Em 1979, a patente foi reconhecida pelos ingleses. Em 1980, uma linha experimental foi instalada na feira industrial de Hannover, na Alemanha, e 18 mil pessoas usaram o aeromóvel. Os indonésios instalaram a primeira linha comercial em Jacarta, em 1989.
Parecia que nada deteria o invento de Oskar Coester, principalmente no Brasil e particularmente em Porto Alegre, onde linhas experimentais foram implantadas. Mas, então, os questionamentos sobre a viabilidade econômica de oferecer um transporte em larga escala começaram a ganhar espaço, principalmente na imprensa. Pouco dado à retórica, o empreendedor reservado não se sentia bem na arena do debate público. Apostava que a racionalidade acabaria se impondo perante os formuladores de políticas de transporte. A quem enxergava a articulação de lobbies contra o aeromóvel e lhe recomendava antídoto de mesmo calibre, recolhia-se. Ficava com alguns credos pessoais, por românticos que pudessem parecer. Um deles: ” O mundo só se move por causa dos sonhadores, mesmo que suas ideias inovadoras colidam com costumes arraigados e interesses econômicos.”
A empresa cindiu-se em duas, Coster Automação e Aeromóvel Brasil, cujo comando repassou ao filho, Marcus Coester. A segunda geração se debate com dificuldades parecidas com as que o fundador teve de enfrentar. Mas segue em frente. Assim que a saúde do pai começou a se debilitar, nos últimos anos, Marcus passou a colher e organizar as memórias do “Homem do Vento”, título provisório dado à biografia de Oskar Coester. E, logo na abertura, está emoldurada a frase seminal do inventor do aeromóvel.
“O mundo só se move por causa dos sonhadores.”