Mulheres trans são eleitas para a Câmara de Vereadores em Rio Grande e em São Borja


Em Porto Alegre, candidata fica como suplente. Além da diversidade, elas destacam as pautas da economia, da saúde pública e da educação como essenciais em seus mandatos. Eleitores comemoram com Regininha eleição à Câmara em Rio Grande
Arquivo Pessoal
A diversidade é uma das grandes vencedoras das eleições municipais em 2020. Em Rio Grande, no Sul do estado, e em São Borja, na Fronteira Oeste, duas candidatas foram eleitas vereadoras e, em Porto Alegre, uma mulher trans é suplente na Câmara Municipal na próxima legislatura.
Regininha, do PT, foi eleita para a Câmara de Rio Grande. Ela recebeu 930 votos e obteve 0,95% dos votos válidos. Com isso, volta a ocupar uma das cadeiras do Legislativo rio-grandino, já que, em 2018, esteve no cargo por 10 dias, quando era suplente.
“O grito estava um pouco abafado. Comemoramos no domingo. Agora, já começamos a nos planejar para 2021, porque também seremos oposição”, afirma.
A pauta da educação é transversal em sua agenda política. Estudante de pedagogia na Universidade Federal de Rio Grande (Furg), ela quer inspirar outras pessoas que pertençam a minorias a não se sentirem excluídas de nenhum processo social.
“Tive que vivenciar todo tipo de violência, principalmente na escola. Sempre gostei muito de estudar, e isso na minha juventude foi impossível. Cheguei a ter convite de uma diretora para me retirar, não era bem-vinda no meu espaço. Me formei no EJA aos 35 anos. Quero que nossa população possa concluir todos os ensinos com a maior normalidade. Acredito na educação”, afirma.
Regininha foi eleita vereadora em Rio Grande
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Por isso, a partir de 2021, ela não pretende levar apenas a questão de gênero para as sessões da Câmara, mas ser a porta-voz do bairro Getúlio Vargas, um dos mais pobres da cidade.
“Sei a realidade de uma criança que vai pra escola porque tem alimentação garantida. Sei olhar no olho do sujeito e não desconfiar da história dele. Sei o que é uma mãe se preocupar com a alimentação dos filhos. Não quero um mandato assistencialista, mas onde as pessoas possam ocupar esses espaços”, conclui Regininha.
Vitória simbólica
Lins Robalo, também do PT, teve 678 votos em São Borja, ou 2,03% dos votos válidos. Ela será não apenas a primeira vereadora trans da cidade, mas a primeira mulher negra na história e a única a combinar a bandeira da diversidade em um parlamento conservador.
“Retoma o Legislativo com cor. Pena que somente eu. Como disse uma amiga, o ponto de diversidade está concentrado em mim, em uma vereança hegemonicamente de homens brancos e heterossexuais”, afirma.
Lins Robalo foi eleita em São Borja
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Antes mesmo de assumir o cargo, Lins terá que registrar um boletim de ocorrência e denunciar as ofensas recebidas nas redes sociais após sua eleição.
A transfobia, aliás, é debate constante na cidade. Em 2018, a transexual Thalia Costa Barboza, de 33 anos, foi morta a pauladas por Douglas Gluszszak Rodrigues, de 22 anos, que jogava futebol pelo São Borja.
A ONG Girassol, amigos na diversidade, do qual Lins faz parte, foi determinante na mobilização para que o caso fosse para a Justiça. Agora, com um espaço garantido no Legislativo, ela pretende ampliar suas pautas. Algumas já estão prontas.
“Nesse primeiros seis meses vão ser as questões dos direitos da mulher e dos LGBTQI+. Por exemplo, o Conselho Municipal da Mulher foi extinto e a gente quer a retomada. A gente também quer elaborar um projeto de lei que fale da mulher que sofre violência doméstica e tenha um acolhimento provisório e acompanhamento psicológico. E que o ambulatório de saúde LGBT, que temos em parceria com a gestão pública, vamos lutar para que seja registrado dentro da Secretaria Municipal da Saúde e ampliem os atendimentos”, destaca a vereadora eleita.
Pauta econômica é fundamental
Em Porto Alegre, Natasha Ferreira recebeu 2.011 votos e ficou com 0,32% dos votos válidos. Será a terceira suplente na bancada do PSOL, uma das maiores da Casa.
Por isso, ela considera importante enfatizar as pautas econômicas, como a auditoria da dívida pública e a lei de diretriz orçamentária.
“Disputar o campo econômico é fundamental para que se possa falar de uma casa de acolhimento LGBT, que é muito mais uma política de consequência de uma série de problemas do que de causa. A casa de acolhimento, a gente tá assumindo que pessoas são expulsas de casa, não conseguem estudar, não têm mercado de trabalho, e acabam ficando nas mãos do mesmo estado que não conseguiu construir políticas públicas para que as famílias respeitem as orientações, construam um debate de sexualidade”, diz Natasha.
Para ela, essas políticas devem normalizar a presença de uma pessoa trans em todos os ambientes, inclusive naqueles restritos a pessoas cisgênero.
“A principal urgência é garantir a sobrevivência das pessoas transexuais, porque é o pais que mais mata pessoas trans por ódio, por discurso fundamentalista”, alerta.
Natasha será suplente na Câmara de Porto Alegre
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By Tarcila Lisboa

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